quinta-feira, junho 21, 2007

Serviço de Utilidade Pública

Não é costume meu postar coisas 'não-minhas'. Nem vai passar a ser, creia-se. Impossível, porém, não tentar que mais pesoas conheçam o poema que segue, de Fernando Pessoa. Se me repreenderiam por julgar humanitária esta iniciativa, ao menos de utilidade pública é. Não arredo mais que isso.
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Num meio-dia de fim de primavera

Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.
Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu era tudo falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras.
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque não era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.

Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!

Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o sol
E desceu pelo primeiro raio que apanhou.

Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas pelas estradas
Que vão em ranchos pela estradas
com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.

A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as cousas.
Aponta-me todas as cousas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.

Diz-me muito mal de Deus.
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar no chão
E a dizer indecências.
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.
E o Espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.
Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou —
"Se é que ele as criou, do que duvido" —
"Ele diz, por exemplo, que os seres cantam a sua glória,
Mas os seres não cantam nada.
Se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres."
E depois, cansados de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
e eu levo-o ao colo para casa.

Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural,
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.

E a criança tão humana que é divina
É esta minha quotidiana vida de poeta,
E é porque ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre,
E que o meu mínimo olhar
Me enche de sensação,
E o mais pequeno som, seja do que for,
Parece falar comigo.

A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E a outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é o de saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.

A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direção do meu olhar é o seu dedo apontando.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.

Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos e dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda.

Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo um universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.

Depois eu conto-lhe histórias das cousas só dos homens
E ele sorri, porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios
Que ficam fumo no ar dos altos-mares.
Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade
Que uma flor tem ao florescer
E que anda com a luz do sol
A variar os montes e os vales,
E a fazer doer nos olhos os muros caiados.

Depois ele adormece e eu deito-o.
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo-o lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.

Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate as palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.

Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.

Esta é a história do meu Menino Jesus.
Por que razão que se perceba
Não há de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam?

Fernando Pessoa

domingo, janeiro 14, 2007

Luiz Henrique Seminu

Tá. Esse texto não é literário. Vou postar, porém, para que os alguns que lêem essas sandices saibam um pouco sobre quem escreve. Assim, num discurso mais direto.

Não abdico, contudo, (nem por isso nem por nada) de escrever como gosto de escrever. Deixemos que algumas imagens e informações criem um ambiente fértil para quem se interessar em preencher as lacunas. Passemos, pois, às coisinhas sobre mim. Não quer saber? Lance mão do MSN Messenger e/ou Orkut. Pode mesmo ser mais divertido, sem dúvida.

Uma pergunta não cala em mim: quando, e por que motivo, nos tornamos tão covardes? Sim, eu sei que sou covarde. E você também é. Nunca percebeu que fugimos o tempo todo da verdade (leia-se honestidade/franqueza/sinceridade)? Fugimos sim. Não sabemos quem somos. Gastamos todas as nossas energias para sustentar um arremedo do que gostaríamos de ser. E não é apenas social isso. Fugimos, sobretudo, de nós mesmos. Até a morte. Somos miseráveis. É necessário que se saiba isso.

Estou tentando perder um parafuso. Algo perfeitamente humano, mas que decidi rejeitar. Chama-se apego. Em toda a amplitude que a palavra abriga. Isso diz respeito a me desapegar do meu arremedo covarde sobre mim mesmo. Desapegar-me das pessoas (não, você desperdiçou uma conclusão – não é desprezar, é perder o apego). Desapegar-me das imitações fantasiosas que vivemos construindo sobre tudo e que, um dia, acabam por nos destruir. Um exemplo simples: amar você, e não a pessoa que construí em mim (inspirada em você, mas adequada aos meus desejos) movido pelo medo de te perder. Poupamo-nos, assim, de decepções tolas. Tão tolas e tão injustas. Cruéis, me atrevo.

Já olhei o caos, olhos nos olhos. Assusta? Apavora. Mas se aprende coisas que valem as penas. A mais importante, eu poderia enunciar como segue: se há uma verdade não relativa, não nos foi dado o direito de sabê-la. Nunca. Desista. Isso, levado a sério e com sinceridade, muda a vida diametralmente. Uma outra lição irrevogável: está se sentindo bem? Sente prazer? Pois sugue cada gota. Não reprima impulsos menores do que os que te conduziriam a um sanatório ou à prisão. As coisas podem (e provavelmente vão) mudar completamente no próximo segundo. O inferno é ali na esquina.

Há, em tudo, tanta beleza que tonteia. Mas não a vemos. Estamos olhando, mas muito ocupados pensando. A quantidade de concentração necessária para a verdadeira contemplação é tamanha, que uma vida de dedicação a isso pode não ser tempo suficiente. Há, felizmente, átimos desse estado mental durante as tentativas. E a beleza te preenche, ela te abraça forte, te deixa pleno de um não-sei-o-quê maravilhoso. Inesquecível. E está tudo lá, a verdadeira majestade. Ah, que nunca se duvide: é preciso haver beleza, tanto quanto é imprescindível o oxigênio do ar. Um detalhe curioso é que, quando se torna impossível que vejamos beleza no que quer que seja, quando tudo se resume a nada, e morrer não é uma opção, surge uma oportunidade única: reaprender de novo que é belo. E, dessa vez, pode-se aprender melhor o que é realmente belo.

Mais: a ilusão de poder planejar o futuro é uma maldição. A antecipação reduzida não, esta é necessária à sobrevivência. Ressalto aqui a pretensão de fazer planos para o longo prazo. Isso só nos conduz a dois fins: neurose ou decepção. A ordem é uma invenção humana, um recurso para que possamos nos referenciar minimamente. Mas não se engane - não há ordem. Absolutamente. Um mínimo necessário de esforço por ordem, somado a estar em paz com o caos, parece-me razoável.

Por último (e talvez o que há de maior importância) a ternura. Ser uma pessoa terna não tem a ver com se regozijar na gratidão das pessoas ( a ingratidão é mais comum, isso traz sofrimento). Ser terno faz bem. Tocar as pessoas com carinho, elogiar espontaneamente, ser solícito, atencioso, leal. Ouvir, de verdade, o que as pessoas se propõem a te contar. Usar vocativos graciosos. Acolher um abraço com firmeza e oferecendo segurança. Essas e mais incontáveis outras coisas. Preencha-te de ternura. Traz leveza de coração, conquista pessoas caras e garante noites mais bem dormidas.

Pedacinhos de mim... Agora, publicados, pertencem a vocês. Torna-se possível, assim, vislumbrar a possibilidade de você vir a gostar de mim, ou não. Mas, em nome da sensatez, não foi suficiente. Pretendendo ser completa minha autodescrição, não caberia aqui, não seria elegante, e não tem a menor graça conhecer as pessoas assim.

terça-feira, dezembro 26, 2006

Dama de Castelo

Nada a ver com ressentimento. E não se pode sentir saudades do que nunca foi possuído. Mais parece um ruminar de pensamentos e memória. Sei que me faz bem. Penso sempre nela, algumas coisas servem de gatilho. E aí se desenrolam as fantasias, todas as melhores. Ternas, lascivas, com cheiros inexplicavelmente bons. E sabores. Nada real, invento tudo. Mas tenho certeza de que, concretizando-se, seriam surpreendentes, ainda que semelhantes aos ditos da minha imaginação. Alguém já perguntou: como pode alguém sonhar o que é impossível saber? Não sei, mas é possível. Para mim, a quem não foi possível saber, sonhar é inevitável. E o tempo? O tempo soma sobriedade e uma boa calma. Boa.

Seu nome, seu apelidozinho-de-amigos-e-infância, tão apetecíveis a mim. Como poderia ser diferente? Suas orelhas são adoráveis, as orelhas! Um pouco “de abano”, sendo isso mesmo algo atrativo. Densas sobrancelhas de mulher, conferindo um aspecto de fêmea, uma juventude viva, do tipo que não se vai tão cedo. Sorriso mole de filha acarinhada, que não esconde a mordida aberta odontológica. E o que tem a beleza com isso? Não há ordem na beleza, caótica e indomável que é. Cabelos de um perfume que não se encontra ou não cabe em outro cheiro que existe. Qual seria o perfume do acalanto, da paz? Há tanta paz ao longo daqueles longos fios de cabelo! Ali, o tempo não existe.

Olhos habilidosos em capturar a atenção de qualquer um. Diria que não se pode olhar por muito tempo dentro daqueles olhos, seria algo nocivo à minha sanidade, minha ilusão de controle. Grandes, brilhantes. Mesmo que vertessem lágrimas não despertariam pena, nem angústia. Tal choro seria algo para se contemplar, calado. Nem é de minha autoria o pensamento que reza: onde ela chega todos vivenciam essa fagulha de se apaixonar por ela. Sabe manter tudo superficial, mesmo entre segredos. Quando quer, deixa escapar suas verdades. Eu já soube evocá-las, algumas bem conheço. Mantém-se sempre no comando, sempre. Imaginá-la constrangida não se pode, não sou capaz. Evidente que é possível, mas ainda em tais momentos, sei que encontraria uma meninice qualquer libertadora.

Esconde-se na conformação que construiu a respeito do que desperta nas pessoas. Não nutre mais futilidades do que fazem as outras mulheres. Protege-se atrás dessa faceta, disso eu sei. Descobri. Sua vaidade se dobra, indiferente, aos momentos de alegria gratuita. Desastrada, não rebola convicta. Não mais do que anatomia e saltos impõem. Aprendi seu ritmo, de gestos, de andar, de inclinar a cabeça um pouco para o lado num sorriso menos medido. Eu e meu talento em apreender sem ser notado. Eu e minha mágica de ser ignorável, de mesclar minha presença com o restante dos ambientes, de manipular a indiferença das pessoas e mirar tudo em mim mesmo.

Com obsessão em construí-la dentro de mim, ganhei a possibilidade de usar tal construção como alvo para um tal amor (ou o que quer que seja isso). Por pouco tempo fui capaz de ir além, tornar-me objeto de apreço, despertar possibilidades e dúvidas. Por bem pouco tempo, o que em mim fez nascer todas essas impertinências tão queridas. Suas dúvidas, possibilidades, perderam-se em dias, outros fatos, outras coisas e pessoas. Não haviam de passar disso mesmo, eu sempre soube. Em mim, porém, tudo decantou e cristalizou-se num canto, desses que se visita deitado, com os olhos no teto. Desses que ninguém nunca conhece em nós.

O tempo e sua calma deram jeito de condensar tudo isso numa sensação, quase um sentimento. Que presente grato. Pessoas que se transformam em sentimentos... Assim, independentes de presença, do tato. Está tudo lá, indistinguível. Mesmo o nome perde a importância. Nunca foi amor platônico, não há angústia, lamúrias. Há, e sempre haverá, uns travesseiros, o escuro, os olhos no teto e um sorriso que ninguém vê.

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Breve Manual para Bastardos Violentos

”Você já roubou um automóvel? Você, hmm... cheira cocaína e transa com prostitutas regularmente? Já apagou alguém? Não? Claro, é para essas e outras coisas que existem os filmes de Quentin Tarantino."

I – Facas

As facas são armas fáceis de se ocultar. Atenção: não estamos falando aqui de navalhas ou “jacknives”, prefira as dos tipos militar ou para cortar carne. Devem ser sacadas apenas no momento do ataque, evitando-se assim o desarmamento ou desvios da vítima.
É possível foder definitivamente o cara lançando mão de um conjunto curto de dois movimentos. Há duas seqüências infalíveis: numa, um primeiro ataque é agudo e direcionado à coxa, parte interna, à altura da virilha. Noutra, a mesma investida inicial deve formar um movimento transverso e curto, direcionado ao pescoço. O filho da puta não vai conseguir gritar (embora alguns não abram mão disso). Ambos os movimentos iniciais citados devem ser seguidos de um giro, através do qual o atacante projeta seu dorso contra o adversário, bloqueando a envergadura de seus braços. Como parte de tal ataque, continue com uma investida vigorosa direcionada ao abdome, gume orientado superiormente, à altura do umbigo, usando ambas as mãos para que se possa atingir a aorta abdominal, anterior à coluna vertebral. Então, o corte deve prolongar-se no sentido do tórax, detonando-se assim as abundantes artérias da região. Gire a faca, se houver tempo, para provocar danos mais extensos. Finalizado o ataque o vitimado perderá uma bica de sangue em segundos, tornando-se incapaz de esboçar qualquer defesa. Segue-se choque hipovolêmico e morte em poucos minutos. Uma assistência médica, mesmo imediata, seria incapaz de conter as múltiplas hemorragias. A morte é certa. Missão cumprida. Limpe a faca e guarde para preparar o jantar.

II – Clavas, bastões, tacos, tubos metálicos e martelos

Armas desse tipo dificilmente podem ser carregadas de forma discreta, mas constituem objetos comuns em vários ambientes urbanos. Utilize a porção mais maciça da arma para atacar.

Uma abordagem inicial descente pode ser golpear a face externa do joelho. Dói como o Diabo! O resultado esperado seria o desequilíbrio do oponente e falha de sua guarda. Aproveitando-se disso, direcione o próximo movimento firmemente contra a área logo abaixo dos olhos, na face, à lateral do crânio abaixo das orelhas ou às têmporas. A nuca, caso se exponha na seqüência, é um ótimo alvo. As escolhas resultariam em fraturas dolorosas e incapacitantes. Com o oponente no chão golpeie o crânio repetida e robustamente. Prefira a face, nuca e espinha.

III – Armas de fogo.

Nem é possível andar com um berro na cintura facilmente. Leis proíbem seu uso sem as devidas exigências legais. Portanto a regra aqui é ser rápido, discreto e eficaz.

Os melhores disparos são sempre à queima roupa. Frite o sangue. É um engano privilegiar o crânio, são ossos espessos e podem alojar, sem maiores danos, projéteis de calibres menores. Áreas preferenciais para disparos à curta distância são o abdome médio e o centro do tórax (leve desvio à esquerda e abaixo). Provocarão hemorragias internas que resultam em choque hipovolêmico em pouco tempo. Você não é um ladrão no meio de um tiroteio, portanto esvazie o pente ou tambor. Se o safado virar-se para correr, mire na nuca ou na parte de trás dos joelhos. Ele vai cair, seja rápido e termine seu serviço. Use luvas, roupas com mangas longas e óculos. Abandone a arma na cena do crime ou desmonte-a o mais rápido possível e espalhe as peças em lugares de difíceis buscas policiais, como bueiros, e grandes coleções de água suja. Elimine as possibilidades de rastreamento da compra da arma. Nunca mais, absolutamente, fale sobre o assunto.

III – Enforcamento

Use fios resistentes, os melhores são cabos de aço finos. Use luvas grossas e enrrole as extremidades do fio nas mãos para dar firmeza. Ataque por trás e envolva-se minimamente em confrontos gerados pelas tentativas de defesa do agredido. As pupilas fixas e dilatadas e sinais de liberação esfincteriana são indicativos de sucesso. Não perca, porém, tempo mais do que necessário para checar os sinais de morte. A penetração do fio no pescoço do atacado, provocando sangramento com sangue de cor vermelho-vivo, é um ótimo e rápido sinal de eficiência do ataque. Não abandone o fio nem descarte em lugares óbvios. Uma idéia é usar um cabo retirado de uma máquina qualquer. Limpe, lubrifique e devolva ao seu lugar.

IV – Ataques de mãos livres

É comum que não se tornem disponíveis, no momento da ação, armas como as supracitadas. Uma divisão entre técnicas de combate desarmado pode ser proposta da seguinte maneira:

Punhos: Socos devem ser firmes e certeiros como o bote de uma serpente. De imediato, o alvo preferido é a garganta, à altura da proeminência formada pela cartilagem tireóide. O golpe provocará asfixia parcial e desorientação. Mais ainda não é o suficiente para finalizar a ameaça de um contra ataque. Um segundo “bote”, direcionado ao osso nasal provocará danos intensos à visão do defensor. O sangue invadirá seus olhos e boca. O gosto de se próprio sangue provocará medo, ponto para o atacante. Se conseguir que o cretino exponha a cara, soque sem parar e com força, até não agüentar mais a dor nas suas mãos. Um último alvo para socos, podendo ser usado entre as técnicas já propostas, é a região logo abaixo das costelas no lado direito. O fígado, aí localizado, responde com dor intensa a pancadas firmes.

Joelhos e cotovelos: são superfícies agudas e o dano provocado por elas pode facilmente fraturar costelas e ossos da face. Exigem porém uma guarda muito ineficaz do defensor, oportunidades que não devem, em absoluto, ser desperdiçadas. Um golpe de joelho contra a base do queixo de uma pessoa provocará o que se conhece como concussão da massa encefálica, que resulta em desorientação, náuseas, perda parcial do tônus muscular corporal e cegueira momentânea. A curta distância projete seu joelho sem piedade contra os testículos. Não perca essa oportunidade, eficiente e recompensante.

Chutes: chute o saco dele! Quer coisa mais óbvia? Não use o peito do pé, prefira a ponta do sapato. E jamais deixe de observar a cara que ele vai fazer.. Há uma técnica do Tae Kuon Do denominada chute lateral. Neste movimento o atacante investe estendendo um golpe com o calcanhar da perna anterior, transferindo toda a firmeza de seu membro inferior estendido ao ponto de impacto. Esta técnica, se bem utilizada, leva o oponente ao chão instantaneamente, desorientado e vulnerável. Sugestão de movimento seguinte: “pisão” forte na base do crânio da vítima caída – fratura cervical – insuficiência respiratória – morte em poucos minutos.

Chaves, agarramentos e garras:

a) Agarramentos - as mais eficazes quando mantém-se em mente matar o adversário são as que interrompem o fluxo sanguíneo carotídeo aferente ao encéfalo. A vítima de um “mata leão” ou “triângulo” bem executados estará inconsciente em cerca de 1 minuto. Daí em diante, com um desmaiado estendido aos seus pés, use a criatividade. Só tem uma desvantagem: ele não vai gritar, fazer caretas horrendas nem implorar por misericórdia. Na verdade, nem vai perceber que morreu.

b) As chaves têm como principal objetivo arrebentar ligamentos. As vantagens são a dor insuportável e a inutilização do membro vitimado. Cria-se uma limitação de ataques que torna o uso de outras técnicas mais fácil. Se o intuito não é matar, ao menos a batalha se encerará fatalmente. Caso contrário, alguém com um braço ou perna quebrada não morrerá menos que outra pessoa. Decore o manual, seu inútil!

c) As garras são muito versáteis e proporcionam ataques violentíssimos. Mas uma ressalva há de der feita aqui: Você não é o mestre Pai Mei, o uso desta técnica exige treinamento para fortalecimento anormal de mãos e antebraços. Praticantes da técnica, geralmente, iniciam golpeando a face do opositor com rápidos golpes lacerantes. O idiota vai ficar enfurecido por ter sido atacado com uma unhada tão doída. Garras aplicadas competentemente a articulações proporcionam torções que facilmente rompem ligamentos, eliminando um dos membros-armas do atacado. Podem ser direcionadas a feixes espessos de músculos como o bíceps braquial, provocando dolorimento prolongado e hematomas. Destaque-se aqui o que há de mais mortal na utilização de um golpe tipo garra: um ataque firme com a força de um alicate contra a traquéia pode interromper a luta imediatamente por fraturar cartilagens e provocar asfixia. Nessa situação o vitimado torna-se instantaneamente vulnerável a golpes mais fatais.

Observação final: há personagens protagonistas para que se aplique qualquer técnica das aqui citadas. Frieza. Pensamento instantâneo e pragmático. E crueldade, não tenha dúvidas! Os coadjuvantes são temperos: berros e sangue quente.

Não conheço ainda odor mais peculiar do que o exalado por sangue quente, vivo. Descrevê-lo seria inútil. E garanto: quase ninguém, incluindo os que se imaginam o carrasco do capeta, permaneceriam impassíveis ao sentirem esse cheiro. Fede, mas de um jeito ímpar.É para poucos.

terça-feira, dezembro 05, 2006

Poema curto sobre os pêlos do meu rosto

(Barbas, bardos, bandos, bares e bocejos. Brisa, beira. Bebo aos baldes, água pura e boa ventura. Brindem os bons!)

Arremedo de Sansão
Lacônica distribuição
Testosterona, macaco, cão
Por hora crescerão

Ato falho freudiano
Virilidade, santo engano
Vaidoso cultivando?
Do pó ao pó, humano

Mudo o tom, rimar sem criatividade cansa
Deixo barbas, olhar firme de espelho e de verdade
Novo inteiro: falharia se tentasse
Cores e contornos de artista e de criança

Poetinhas, pessoas que mudam de barba
Poetas (imberbes) mudam as pessoas

sexta-feira, outubro 06, 2006

Bocado de Metalinguagem do Eu

É inesperadamente grato parar, de vez em quando, e observar as pessoas. Ler o que elas escrevem, ouvir o que elas dizem (e mesmo que não haja um interlocutor específico, estão sempre dizendo). Na internet, mais do que em qualquer outro meio de comunicação, todos estamos sempre tentando dizer quem somos. Sempre se tem algo pra dizer, escrever, alguém pra citar...

Admito, de bom grado, o raciocínio que define tal esforço como um certo “pensar alto”. Estão dizendo para si mesmos quem são, tentando descobrir, checando a viabilidade de cada pedacinho de idéia. Publicar a subjetividade pessoal soa como algo parecido com afirmar a própria existência. “Olá. Eu existo. E afirmo isso porque sou diferente de você, ou parecido com você. Veja!” Só não há um formato disponível para isso. Portanto, cada um se inventa, e vivemos inventando, falando, escrevendo.

Isso aceito, sobra o gosto de assistir como cada um sustenta o próprio EU. Pode-se buscar cacos de todos os lugares, e, de fato, colecionar, catar, funciona. Fazemos isso respirando. Mas há outros lugares para a atenção. Para descansar um tanto de ficar existindo, olhar é bom. Ouvir agrada. Ser, sinceramente, o destino das tantas mensagens, considerar, pensar a respeito. Espectador. Só um pouco.

Uma certa observação merece letras. Não é sobre apropriar o que os outros produzem que discorro. É outra coisa. Ser um meio pelo qual os outros possam existir, interpor espaço. Outras horas servem para dizer, outros momentos. Segure um pouco essa idéia... Fazer esse texto ficou incoerente com ela, não é? Mas você leu. Fez o que é proposto. Se funcionou, que tal continuar? O que você tem a dizer?

domingo, setembro 03, 2006

Poema Normal

Normal, caminho bem pavimentado e reto
Abriga nas infinitas margens tudo, de querer e de não querer
O que é normal não é tanta coisa...
Normal é bem no meio, não é nada
E bem por não ser nada tanto é necessário
Que pra ser, não ser primeiro

Eu, corda que vibra
Normal, corda tesa
Sem desvio, sem som
Mas tendo sempre ao normal
O normal é ser, o resto é estar
Sempre estou alguma coisa
Não obstante ser normal

Normal mesmo não é nada
Mas é tão caro, precioso
Que para grande e pequeno
Que pra belo e feio
Que pra louco e são
Não é preciso um meio?