sexta-feira, outubro 06, 2006

Bocado de Metalinguagem do Eu

É inesperadamente grato parar, de vez em quando, e observar as pessoas. Ler o que elas escrevem, ouvir o que elas dizem (e mesmo que não haja um interlocutor específico, estão sempre dizendo). Na internet, mais do que em qualquer outro meio de comunicação, todos estamos sempre tentando dizer quem somos. Sempre se tem algo pra dizer, escrever, alguém pra citar...

Admito, de bom grado, o raciocínio que define tal esforço como um certo “pensar alto”. Estão dizendo para si mesmos quem são, tentando descobrir, checando a viabilidade de cada pedacinho de idéia. Publicar a subjetividade pessoal soa como algo parecido com afirmar a própria existência. “Olá. Eu existo. E afirmo isso porque sou diferente de você, ou parecido com você. Veja!” Só não há um formato disponível para isso. Portanto, cada um se inventa, e vivemos inventando, falando, escrevendo.

Isso aceito, sobra o gosto de assistir como cada um sustenta o próprio EU. Pode-se buscar cacos de todos os lugares, e, de fato, colecionar, catar, funciona. Fazemos isso respirando. Mas há outros lugares para a atenção. Para descansar um tanto de ficar existindo, olhar é bom. Ouvir agrada. Ser, sinceramente, o destino das tantas mensagens, considerar, pensar a respeito. Espectador. Só um pouco.

Uma certa observação merece letras. Não é sobre apropriar o que os outros produzem que discorro. É outra coisa. Ser um meio pelo qual os outros possam existir, interpor espaço. Outras horas servem para dizer, outros momentos. Segure um pouco essa idéia... Fazer esse texto ficou incoerente com ela, não é? Mas você leu. Fez o que é proposto. Se funcionou, que tal continuar? O que você tem a dizer?

4 Comments:

Blogger Flavio said...

Digo que o pensamento parasita o homem.

Quanto à sujeira: não, não sabem que são sujos. E os jecas são todos. Sobretudo os que falam que o Brasil está "em desenvolvimento". Seria bom que os acadêmicos, o meio dos intelectualóides jecas, deixasse de usar "em desenvolvimento" e usasse pobre. Pobre é pobre, e não desprovido de melhores condições sócio-econômicas e culturais. Negro é negro, e não afro-brasileiro. E por aí vai.

Os limpinhos aqui são mais jecas que os sujinhos. E jeca não é escolha.

Sim.

4:47 PM  
Blogger Polysbela said...

Ao tentar dizer-se a si mesmo e ao outro, busca-se cacos de todos os lugares; e lugares são o discurso do outro, ou seja, a tentativa do outro de também se anunciar. Isso lembra o “estágio do espelho”, rs., coisa de quem lê Lacan. “Ser um meio pelo qual os outros possam existir” nem é opção, é o modo possível e ininterrupto dos seres constituírem-se (ainda segundo Lacan, uma vez que o “eu inato” é inatingível, resta-nos o eu socialmente construído); talvez “ser um meio agradável pelo qual os outros possam existir”, seja opcional, porque via de regra, somos espectadores mal criados...

9:58 AM  
Anonymous Anônimo said...

Sabia da existência do seu blog, mas nunca tive tempo (ou consideração) para ler algo. Resolvi lê-lo todo, e abaixo seguem alguns comentários...

1. Foi um imenso prazer reler "Dez segundos" e "Poema Normal" (na verdade, um aprendizado).

2. Deus!, quanto lirismo-paralelismo-cinismo em "Não-Eu, Não-Você"! Pelo lirismo, te julgaria um romântico. Pelo paralelismo, um trovadorista. Pelo cinismo, esbravejaria: "Modernista!". Mas sei que não passa de um debochado que adora salsarrepear com jogos lúdicos de palavras!

3.Há tempos não sentia tanta emoção ao ler um texto quanto senti ao ler "O Invencível". Do fundo do meu coração. Porque, desde seu primeiro período, já sabia do que se tratava. E, daí em diante, tudo se fez como uma grande viagem mágica em minha mente onde, a cada momento, apreciava o engenho e galhardia do escritor ao narrar de forma tão épica suas peripécias fraternas (pequena pausa: não me esqueço do dia em que Fang Pow Tzé, utilizando-se das próprias técnicas dos monges indianos dominadas por Fang Shii Ne, derribou-o num golpe de cintura que descreveu uma hipérbole áurea no ar, contrariando as próprias leis da matemáticas. Aquilo foi assustador mesmo para mim, graduado guerreiro nas artes de Jigoro Kano) e, simultaneamente, afligia-me a mim mesmo na ânsia do desfecho vindoiro. Acho que foi a mais bela homenagem que já vi um irmão prestar a outro. Sei que não passa de uma ridícula fração do que sente por ele, mas é desses esforços (e de outros) que o Amor se sustenta, não é mesmo?

4. Seu "Bocado de Metalinguagem do Eu" convenceu-me a passear por aqui em algumas primaveras e, principalmente, a passar a tentar ouvir (descompromissadamente!) as tantas araras tagarelas que nossa família exporta! Que venham as úlceras em meu estômago!

Arrematando, seu blog é um sobejo e você é (pra mim) um modelo, uma inspiração e uma certeza de como devemos sempre buscar as respostas e as perguntas de tudo que nos intriga nessa nossa compulsiva e tão deliciosa busca pelo coringa do baralho. Nunca tinha reparado nisso, mas hoje sei que você é e sempre foi muito de irmão mais velho pra mim. E ah! como me influenciou! Só mesmo eu e seu irmão sabemos o quanto tudo que você fazia sempre era mais apetecível... Todé, muito obrigado por uma vida inteira de aprendizados e peripécias ao seu lado. E saiba que eu amo muito vocês dois. Pode não parecer. Mas você sabe que a vida anda meio dura para todos nós. E sofro muito na minha tentativa de reformulação do Amor. Por isso ele anda meio ausente e apagado. Mas eu sei que te amo. E sei que você também sabe. E é uma grande honra para mim poder amar dois grandes homens como você e seu irmão guerreiro, filhos d'outro homem ainda maior e de uma mulher que, de tão pequenina que se fez construiu para si o maior de todos os corações.

Um gigantesco abraço, SEU EMPOLGADO EM KUNG FU!!
=P

12:14 PM  
Blogger Dáborah Dias said...

Realmente o texto se contradiz, mas afinal, o que não se contradiz?
Que bom seria se todos resolvessem expressar, mesmo gritando incoerente,com tanta arte, como você.
É bom passar aqui e ler o que tem a dizer, analisar. "Escrever é como quebrar pedras."

11:52 AM  

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