domingo, fevereiro 12, 2006

Mente x Consciência



Para variar, postarei um texto aqui que, para grande parte das pessoas, não tem pertinência óbvia nenhuma. Porém, para mim, são pertinentes e dignos de serem compartilhados... mesmo que disso resulte o recolhimento de críticas nauseantes...

Sempre me intriguei com a relação de diferença, associação ou oposição entre os conceitos e entidades nosológicas por nós conhecidos como mente e consciência. A princípio, para alguns, pode ser que a diferenciação seja sem esforço. Acredito, contudo, que a reflexão mais séria e dedicada faça surgirem pedras no caminho. Passemos ao broto de entendimento a cerca do tema que (atualmente) me habita.

Inicie-se pela delimitação do conceito mente. Ao meu ver, não sendo isso uma resposta “nissim miojo” (fica pronta em 3 minutos), mente compõe-se de pensamentos, conjecturas, cálculos, linhas de raciocínio, dogmas, induções racionais e tudo mais que o cérebro domina e executa competentemente naqueles, entre nós, hígidos. Mesmo os sentimentos, incluindo os mais profundos e volitivos, certamente passam pelo processamento cortical. Aqui, uma ressalva: estes são sentimentos menos nobres (se me é permitido cunhar essa discriminação). Alguns estados do humor não podem ser ligados nem encadeados racionalmente. Tentando resumir: a mente é o conjunto de manifestações dos processos cerebrais, codificáveis pela razão (e nem aí há segurança na afirmação ou consenso). Nesse sentido, a mente é como a digestão ou as trocas gasosas pulmonares, é imprescindível, mas representa apenas o funcionamento de um órgão.

E a consciência? Saber da existência de si próprio. Seria isso fisiológico? Criemos uma bestificação humana hipotética: um indivíduo, desde o nascimento, cego, surdo, mudo, sem paladar ou tato. Seria ele uma planta, uma máquina funcionando no sentido de manter-se viva, e somente isso? Outro exemplo, não tão hipotético quanto o primeiro. Suponha-se que um indivíduo seja capaz de silenciar os próprios pensamentos, mergulhar num estado de quietude profundo, contemplação absoluta. Será que ele simplesmente perderia a noção de si, já que está desperto e atento?

Biologia e Fisiologia estão caminhando a passos largos no sentido de compreender as mais intrigantes propriedades da mente. Mas e quanto a este cerne chamado consciência? Estar lá, mesmo que não se utilize o pensamento “eu estou aqui”. É possível e existem exemplos práticos e asepticamente científicos, documentados, do fenômeno.

Daqui para a frente a discussão tornar-se-ia deveras parcial (pelo menos aparentemente) e, enquanto as verdades que se sabe (sem que seja necessário aprender) são ignoradas e escarneadas pela maioria, paremos por aqui. Um grande objetivo às vezes se condensa em algo despretencioso – finalizo o texto aqui. E pensemos, tentemos, nos esforcemos. Quem não busca um pouquinho que seja de verdade não sabe como as coisas podem se tornar belas aos mais atentos e calmos (assim eu acredito).

“Agora Kalamas, não se deixem levar por relatos, por lendas, pelas tradições, pelas escrituras, pela conjectura lógica, pela inferência, por analogia, pela concordância obtida através de ponderações, por probabilidades ou pelo pensamento, ‘Este contemplativo é o nosso mestre.’ Quando vocês sabem por vocês mesmos que, ‘Essas qualidades são hábeis; essas qualidades são isentas de culpa; essas qualidades são elogiadas pelos sábios; essas qualidades quando postas em prática conduzem ao bem-estar e à felicidade” - então vocês devem penetrar e permanecer nelas.”
Gautama Sidharta (Bodhi)