Dama de Castelo
Nada a ver com ressentimento. E não se pode sentir saudades do que nunca foi possuído. Mais parece um ruminar de pensamentos e memória. Sei que me faz bem. Penso sempre nela, algumas coisas servem de gatilho. E aí se desenrolam as fantasias, todas as melhores. Ternas, lascivas, com cheiros inexplicavelmente bons. E sabores. Nada real, invento tudo. Mas tenho certeza de que, concretizando-se, seriam surpreendentes, ainda que semelhantes aos ditos da minha imaginação. Alguém já perguntou: como pode alguém sonhar o que é impossível saber? Não sei, mas é possível. Para mim, a quem não foi possível saber, sonhar é inevitável. E o tempo? O tempo soma sobriedade e uma boa calma. Boa.
Seu nome, seu apelidozinho-de-amigos-e-infância, tão apetecíveis a mim. Como poderia ser diferente? Suas orelhas são adoráveis, as orelhas! Um pouco “de abano”, sendo isso mesmo algo atrativo. Densas sobrancelhas de mulher, conferindo um aspecto de fêmea, uma juventude viva, do tipo que não se vai tão cedo. Sorriso mole de filha acarinhada, que não esconde a mordida aberta odontológica. E o que tem a beleza com isso? Não há ordem na beleza, caótica e indomável que é. Cabelos de um perfume que não se encontra ou não cabe em outro cheiro que existe. Qual seria o perfume do acalanto, da paz? Há tanta paz ao longo daqueles longos fios de cabelo! Ali, o tempo não existe.
Olhos habilidosos em capturar a atenção de qualquer um. Diria que não se pode olhar por muito tempo dentro daqueles olhos, seria algo nocivo à minha sanidade, minha ilusão de controle. Grandes, brilhantes. Mesmo que vertessem lágrimas não despertariam pena, nem angústia. Tal choro seria algo para se contemplar, calado. Nem é de minha autoria o pensamento que reza: onde ela chega todos vivenciam essa fagulha de se apaixonar por ela. Sabe manter tudo superficial, mesmo entre segredos. Quando quer, deixa escapar suas verdades. Eu já soube evocá-las, algumas bem conheço. Mantém-se sempre no comando, sempre. Imaginá-la constrangida não se pode, não sou capaz. Evidente que é possível, mas ainda em tais momentos, sei que encontraria uma meninice qualquer libertadora.
Esconde-se na conformação que construiu a respeito do que desperta nas pessoas. Não nutre mais futilidades do que fazem as outras mulheres. Protege-se atrás dessa faceta, disso eu sei. Descobri. Sua vaidade se dobra, indiferente, aos momentos de alegria gratuita. Desastrada, não rebola convicta. Não mais do que anatomia e saltos impõem. Aprendi seu ritmo, de gestos, de andar, de inclinar a cabeça um pouco para o lado num sorriso menos medido. Eu e meu talento em apreender sem ser notado. Eu e minha mágica de ser ignorável, de mesclar minha presença com o restante dos ambientes, de manipular a indiferença das pessoas e mirar tudo em mim mesmo.
Com obsessão em construí-la dentro de mim, ganhei a possibilidade de usar tal construção como alvo para um tal amor (ou o que quer que seja isso). Por pouco tempo fui capaz de ir além, tornar-me objeto de apreço, despertar possibilidades e dúvidas. Por bem pouco tempo, o que em mim fez nascer todas essas impertinências tão queridas. Suas dúvidas, possibilidades, perderam-se em dias, outros fatos, outras coisas e pessoas. Não haviam de passar disso mesmo, eu sempre soube. Em mim, porém, tudo decantou e cristalizou-se num canto, desses que se visita deitado, com os olhos no teto. Desses que ninguém nunca conhece em nós.
O tempo e sua calma deram jeito de condensar tudo isso numa sensação, quase um sentimento. Que presente grato. Pessoas que se transformam em sentimentos... Assim, independentes de presença, do tato. Está tudo lá, indistinguível. Mesmo o nome perde a importância. Nunca foi amor platônico, não há angústia, lamúrias. Há, e sempre haverá, uns travesseiros, o escuro, os olhos no teto e um sorriso que ninguém vê.
Seu nome, seu apelidozinho-de-amigos-e-infância, tão apetecíveis a mim. Como poderia ser diferente? Suas orelhas são adoráveis, as orelhas! Um pouco “de abano”, sendo isso mesmo algo atrativo. Densas sobrancelhas de mulher, conferindo um aspecto de fêmea, uma juventude viva, do tipo que não se vai tão cedo. Sorriso mole de filha acarinhada, que não esconde a mordida aberta odontológica. E o que tem a beleza com isso? Não há ordem na beleza, caótica e indomável que é. Cabelos de um perfume que não se encontra ou não cabe em outro cheiro que existe. Qual seria o perfume do acalanto, da paz? Há tanta paz ao longo daqueles longos fios de cabelo! Ali, o tempo não existe.
Olhos habilidosos em capturar a atenção de qualquer um. Diria que não se pode olhar por muito tempo dentro daqueles olhos, seria algo nocivo à minha sanidade, minha ilusão de controle. Grandes, brilhantes. Mesmo que vertessem lágrimas não despertariam pena, nem angústia. Tal choro seria algo para se contemplar, calado. Nem é de minha autoria o pensamento que reza: onde ela chega todos vivenciam essa fagulha de se apaixonar por ela. Sabe manter tudo superficial, mesmo entre segredos. Quando quer, deixa escapar suas verdades. Eu já soube evocá-las, algumas bem conheço. Mantém-se sempre no comando, sempre. Imaginá-la constrangida não se pode, não sou capaz. Evidente que é possível, mas ainda em tais momentos, sei que encontraria uma meninice qualquer libertadora.
Esconde-se na conformação que construiu a respeito do que desperta nas pessoas. Não nutre mais futilidades do que fazem as outras mulheres. Protege-se atrás dessa faceta, disso eu sei. Descobri. Sua vaidade se dobra, indiferente, aos momentos de alegria gratuita. Desastrada, não rebola convicta. Não mais do que anatomia e saltos impõem. Aprendi seu ritmo, de gestos, de andar, de inclinar a cabeça um pouco para o lado num sorriso menos medido. Eu e meu talento em apreender sem ser notado. Eu e minha mágica de ser ignorável, de mesclar minha presença com o restante dos ambientes, de manipular a indiferença das pessoas e mirar tudo em mim mesmo.
Com obsessão em construí-la dentro de mim, ganhei a possibilidade de usar tal construção como alvo para um tal amor (ou o que quer que seja isso). Por pouco tempo fui capaz de ir além, tornar-me objeto de apreço, despertar possibilidades e dúvidas. Por bem pouco tempo, o que em mim fez nascer todas essas impertinências tão queridas. Suas dúvidas, possibilidades, perderam-se em dias, outros fatos, outras coisas e pessoas. Não haviam de passar disso mesmo, eu sempre soube. Em mim, porém, tudo decantou e cristalizou-se num canto, desses que se visita deitado, com os olhos no teto. Desses que ninguém nunca conhece em nós.
O tempo e sua calma deram jeito de condensar tudo isso numa sensação, quase um sentimento. Que presente grato. Pessoas que se transformam em sentimentos... Assim, independentes de presença, do tato. Está tudo lá, indistinguível. Mesmo o nome perde a importância. Nunca foi amor platônico, não há angústia, lamúrias. Há, e sempre haverá, uns travesseiros, o escuro, os olhos no teto e um sorriso que ninguém vê.