sábado, outubro 08, 2005

Agora

Este, agora, levanta-se do ócio produtivo... mais da decisão consciente de me agraciar com tempinho pra mim mesmo.

Vamos lá. Que essa fadinha de inspiração não me abandone por alguns minutos, ao menos quero terminar o texto. Exercício que imagino ser meu (mas que deve ter muitos donos, escritores de hábito), vamos aqui tentar coagular com coesão as imagens, sons e abstrações outras que me estorvam o ordinariozinho de livro-prova do dia. Dizem que é simples, basta amarrar com vocabulário cuidadoso e referências da erudição ocidental. Não creio, porém. Parece-me mais uma necessidade, uma dessas das quais não nos atentamos sem que isso doa, faça faltar o ar ou provoque cólicas intestinais. A tentativa de construção cartesiana de algo que já existe, pulverizado em humor instável e conclusões felizes e infelizes. Que tome corpo o texto então. Assim, livre, do agora.
Atinge-me, na cara, o agora. Vem incrustado de acúleos (não falamos grego?) do antes. Não é lindo como forma-se a adversão entre o “sou hoje” e o “era”? Não conheço, na minha humildade material de carbono, nitrogênio, hidrogênio e oxigênio, algo que possua plasticidade par em relação à mente de um homem acordado. Traz problemas, claro, mas aceito a condição. Não fosse assim, que beleza existiria, se nós é que separamos o belo do mundano, de pé em nossa situação de espírito do momento? Einstein se revire no túmulo, mas há algo mais universal que o relativismo humano? Nem o espaço-tempo, nem os buracos de minhoca e as onze dimensões (precisamos encontrar a cura para as distrofias musculares) compartilham de imensidão caótica maior do que a simples condição humana. Somos paredes, de cimento chamado tempo e tijolos muitos, cada um trocando de lugar e se renovando constantemente. Os juízos, valores e certezas dançam, escusos, seduzindo-nos a cada dia. Alguns ficam. Estes, porém, fugitivos da consciência do super-ego, sentam-se em nossas vidas, não sendo isso uma escolha. Conclusão angustiante, mas de uma beleza que, tão grande, “sinto que meu coração vai explodir”.
Seguem-se, pois, as definitividades cotidianas, uma a uma. Vivamos essa somatória (Σ) sem fim, antes dos 80 ou 90 anos para os sortudos, disciplinados ou não. Antes a discrepância dissonante entre acordes velhos e novos do que a falta do meu violão.

PA

P.S.: É verdade, o vocabulário e as referências banais ajudam. No final eu não conhecia esse texto há uns 20 minutos atrás. Agora, me parece meu.